Toda vez que minha avó paterna me dizia que o molde em que fui feita
fora quebrado quando nasci, eu achava que ela estava me elogiando. Acreditava
que somente eu era “única” no mundo. Aos poucos, fui percebendo meu engano.
Primeiro, porque, em vez de me tornar diferente, o fato de ser uma
criatura única era o que me igualava a todos os seres humanos. Entendi que é
parte da nossa condição humana sermos indivíduos exclusivos. Dela ninguém
escapa. Em segundo lugar, porque essa exclusividade – recebida com meu nascimento
– não me foi dada assim de mão beijada. Nem veio pronta nem tinha um manual.
Ela se parece com aquelas massinhas de modelar que, quando a gente ganha, ganha
só a massa, não a forma, e o resultado é sempre o fruto de um longo processo de
faz e desfaz.
Cedo percebi que jamais teria sossego e que teria muito trabalho. Típico
presente de grego, uma armadilha. Encontrei eco para o meu espanto nas palavras
da Mafalda, a famosa personagem de Quino, o cartunista argentino, no momento em
que ela diz: “Justo a mim me coube ser eu!”. Ser quem só a gente mesmo pode ser
é quase uma desolação. Quem eu sou e deverei ser? Minha individualidade é um
mistério. (…)
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